O Risco da Tirania Infantil
Em tempos de vida corrida e de
inversão de valores que a sociedade atual impõe, muitos pais acabam se
deparando com situações difíceis de manejar, principalmente no que diz respeito
à rebeldia e ao comportamento opositor dos filhos.
Vale lembrar que a criança, dos 2
aos 6 anos, está em pleno desenvolvimento da autonomia e certas crises de birra
e de teimosia são normais: ela está querendo dizer ao mundo que tem vontade
própria e quer lutar pelas suas opiniões. Por isso, é importante que os pais
estejam atentos ao manejo destas crises, bem como à sua frequência.
O comportamento infantil de desafiar
as regras deve ser tratado com bom senso: aquilo que a criança está
reivindicando é passível de acordo? Se sim, converse, exponha os prós e os
contras e negocie, às vezes ela pode ter razão e fazer a sua vontade não vai
implicar em riscos ou grandes perdas. Se não, converse também: explique os
motivos do “não” e mantenha-se firme. Neste momento, é importante que ela
perceba que a negativa não tem negociação e que o papel dos pais é orientá-la e
protegê-la. Se necessário, seja assertivo e enfático. Caso a criança perceba
insegurança e/ou desacordo entre os pais, ela vai continuar insistindo e
tentando manipulá-los.
E muitos pais, com orgulho ou
justificativa, afirmam: “ela tem uma personalidade forte, sabe o que quer” ou “ela
herdou a gênio forte da mãe/pai”, quando na verdade o que está acontecendo é a
ausência de limites.
Por incrível que pareça, as crianças
ditadoras ou tiranas, os chamados “reizinhos da casa”, escondem uma grande
insegurança. Quando elas sentem que os pais fazem todas as suas vontades e não
lhe impõem limites, a mensagem que estão captando é a de que elas decidem o seu
destino e, por saber que não possuem maturidade para tanto, sentem-se
inseguras. Ou seja, elas conduzem um barco que não sabe para onde ir.
No livro “Disciplina
– Limite na medida certa”, Içami Tiba destaca alguns comportamentos indicativos
de pais que estão criando filhos tiranos, tais como:
- Fazem tudo que os
filhos exigem, por temor a perder o seu amor;
- Por cansaço, cedem
após a insistência dos filhos;
- Defendem sempre os
filhos contra todos, inclusive contra a escola, baseados somente no que eles
dizem;
- Prometem castigos
e/ou consequências, mas eles próprios não cumprem;
- Fazem pelos filhos o
que eles já tem condições ou o dever de fazer, como dever de casa, guardar
brinquedos, amarrar cadarços dos tênis, carregar lancheira, etc.;
- Engolirem calados
todos os “sapos” que os filhos preparam;
- Abrirem mão de tudo
que tem que fazer para satisfazer as vontades dos filhos;
- Derem sanduíches ou
lanchinhos logo após a recusa de comer no almoço ou no jantar;
- Forem supersolícitos
para compensarem nos filhos seus próprios sentimentos de culpa por separações
conjugais, viagens e até por estar fora de casa, trabalhando;
- Perdem o respeito
entre si e passam a sabotar, maltratar, ofender, ridicularizar, agredir,
menosprezar, trair um ao outro;
- Contrariam sempre o
cônjuge para estar a favor das crianças;
- Usam ou agradam seus
filhos para agredir o seu cônjuge;
- Fazem pacto ativo
(cúmplice) ou passivo (conivente pelo silêncio) com as transgressões dos filhos
sem o conhecimento do seu cônjuge;
- Levam um copo d'água
toda vez que o filho, sentado na frente da televisão, pedir;
- Recolhem toda a
bagunça deixada pelo filho;
- Reclamam mais de
três vezes sobre as mesmas transgressões sem tomar nenhuma atitude consequente.
Andrea Bellingall e Isabela Janiszewski.